São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2012
T
Romantismo provençal
Fiquei doida para fazer um casamento em que todos cheirassem a alho e lavanda
É próprio das noivas romantizarem seus próprios casamentos. E parece que a
coisa mais romântica que existe é a Provence. Decoração provençal com
lavanda já crescida no Brasil, girassóis, mimosas, alcachofras,
amendoeiras em flor, limões dependurados dos galhos, laranjas maduras.
Um inglês francófilo dizia que sabia quando a Provence começava pois o
"mal desaparecia, as macieiras não floresciam e a couve-de-bruxelas não
conseguia nascer". Concordo com a couve-de-bruxelas, muito ruinzinha
mesmo.
Em viagem pela Provence fui obrigada a ir a um dentista. Hotel americano,
sala moderna, boca aberta, ia conseguindo perguntar pela comida, pedir
dicas de restaurante.
E o doutor só arregalava os olhos. "Comida, aqui?" Não, nada de especial,
tudo muito simples, legumes, verduras, uma carne ou outra. Cheguei à
conclusão de que o próprio morador de lá nem sabe como explicar o glamour
que os de fora atribuem aos ingredientes deles.
Depois de muita pesquisa de comidas provençais e lindas fotos, fiquei
doida para fazer um casamento em que todos cheirassem a alho e lavanda, e
eis que recebo um e-mail de leitora. Lá vai ele, editado:
"Eu me senti na obrigação e, talvez, no direito, de fazer algumas
observações sobre o alho, já que citou o já famoso sorvete de alho. Bom,
quando viemos para BSB, meu marido foi trabalhar na Embrapa. Ele já era
especialista em cultura de alho e, nestes anos todos, com as experiências,
o conhecimento se aprofundou bastante, de forma que alho aqui em casa é
praticamente ingrediente obrigatório em tudo (inclusive as crianças gostam
muito e raramente ficam doentes, ainda vou provar que é porque uso uma
cabeça de alho por refeição...). O fato é que, pensando no sorvete de
alho, aquele feito com alho negro (alho comum que, ao ser aquecido a 40ºC
por mais ou menos um mês, sofre um processo de caramelização e fermentação
dos açúcares, conferindo gosto adocicado, defumado, sem odor, gosto
diferenciado mesmo), muita gente -incluindo eu- torce o nariz e blasfema,
dizendo que não dá nem para experimentar sorvete de alho. Mas é bom, e
chique!
Outra coisa diferente é o alho rei ou alho elefante, um alho de sabor
suave usado em saladas, conhece?
Enfim, eu só queria mesmo te contar que, do inusitado sorvete de alho ao
corriqueiro feijão refogado no alho "prensadinho", o bendito alho toma
muito espaço no cenário da agricultura de hoje no Brasil e está tirando
famílias inteiras da zona da pobreza, nos cantos e recantos do nosso país,
onde o meu marido e a equipe passam dias transferindo tecnologias de
produção...
O alho nacional é muito bom -sobre isso e outras coisas você pode contatar
a Embrapa (hortaliças) e até o Francisco, meu marido
Aqui em casa, com tantos alhos, devo lhe dizer que estou ficando
especialista em testar e inventar receitas. Outro dia fiz o risoto de alho
inteiro com ervas, ficou simplesmente show de bola... Patrícia Resende."
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ninahorta.blogfolha.uol.com.br