Total de visualizações de página

sábado, 5 de maio de 2012

um anjo... que passou!

           Ana Lis, uma menininha que eu imaginava de olhos calmos e pele alva,  coração cheio de amor e força de viver, acordou no meio da noite fria de outono. Tinha a vontade de sair correndo, ansiosa pela luz do dia, apressada. Parece que queria viver tudo de uma vez, tudo de uma única vez. Tão frágil, a pequena não conseguiu ver o dia, não deu tempo. Ela nem chegou e já foi, se esvaindo com a madrugada. Tenho pra mim que era um anjo e dizem que os anjos são mandados assim para a Terra, eles nem chegam a ser percebidos por muita gente, passam, perfumam, semeiam e voltam para a LUZ, para o Pai criador de tudo. Essa certeza recobre os corações e alivia a dor dos que ficam sem anjos terrenos.
          Como mãe eu sempre quero que o  dia amanheça com alegria e que as noites mal dormidas sejam apenas  mais uma das infinitas noites em que as mães acordam para ver seus filhos. Acho que não foi assim que aconteceu. As preocupações da gravidez, os sonhos, planos, enxovalzinho, expectativas e tudo mais acabam se diluindo no solavanco da realidade : A pequena bebezinha não voltará para casa com os pais e irmã.
           Acredito, sinceramente, que as pessoas chegam e se vão de nossas vidas por alguma razão, elas não vão sós e não nos deixam sós, como diria o poeta. Muitas vezes gostaríamos de reescrever a história (e eu confesso que tenho sentido muito essa vontade ultimamente) para poder "unir na docilidade de um campo de flores"*, pessoas queridas e, mais uma vez, sentir a calma e a tranquilidade no coração.
Aos primos que hoje perderam a filha deixo o poema:



PARTIDA
(por Bruno Gouveia, vocalista da banda Biquini Cavadão, na missa de sétimo dia de seu filho,                                        realizada no dia 24/06/2011)

a morte de um filho 
é uma gravidez às avessas
volta pra dentro da gente
para uma gestação eterna

aninha-se aos poucos
buscando um espaço
por isso dói o corpo
por isso, o cansaço

E como numa gestação ao contrário
a dor do parto é a da partida
de volta ao corpo pra acolhida
reviravolta na sua vida

E já começa te chutando, tirando o sono
mexendo os órgãos, lembrando o dono
que está presente, te bagunçando o pensamento
te vazando de lágrimas e disparando o coração,

A morte de um filho é essa gravidez ao contrário
mas com o tempo, vai desinchando
até se transformar numa semente de amor
e que nunca mais sairá de dentro de ti.




E por fim: 


"O silêncio antes de nascer, silêncio depois da morte, a vida é um mero ruído entre dois insondáveis silêncios”  (essa é a sua lua, Ana Lis, fotografada da minha janela para você no dia de hoje -5/5/12)


beijos, 
_________________
*trecho da crônica "num campo de Flores", de Romildo Sant´Anna, link para  crônica aqui

Um comentário: